O VINHO NÃO TEM FRONTEIRA
Luiz Henrique da Silveira - Senador da República
As primeiras sementes de uva de que o homem tem conhecimento foram achadas na Geórgia, onde floresceu a notável civilização assíria. Seguindo o processo de datação via carbono 14, arqueólogos ocidentais foram capazes de afirmar que aqueles povos antigos já produziam vinho há cerca de sete mil anos antes da era Cristã.
É interessante notar o que está escrito na Bíblia Sagrada, no nono capítulo de Genesis. Depois de pousar sua arca nos altos do Monte Ararat, Noé “começou a cultivar e plantou vinha”.
Portanto, nem o vinho francês é francês; nem o italiano é italiano; nem o alemão é alemão; nem o argentino é argentino; nem o chileno é chileno; nem o brasileiro é brasileiro. Todos pertencem a essa origem única, a essa cultura única, que se disseminou por todos os continentes, ao longo de séculos e milênios.
Por sinal, de todas as regiões da Rússia e das antigas províncias soviéticas, a Geórgia é a que, ainda hoje, produz os vinhos melhor elaborados. Jantando no Gúria, o restaurante georgiano que faz, em Moscou, um pernil de ovelha tão saboroso como o da Patagônia e da Serra Catarinense, pude provar o vinho herdeiro daquele de sete mil anos... Saboroso.
Fiquei estupefato quando soube que algumas vinícolas brasileiras levaram sua associação nacional a reivindicar do Governo Federal o estabelecimento de barreiras aos vinhos produzidos em outros Países, para garantir reserva de mercado à viti-vinicultura brasileira.
É como se os vinhos nacionais não contassem com enólogos e tecnologia estrangeira; não fossem processados em equipamentos importados; nem fossem envelhecidos em barris de carvalho estrangeiros. E as “nossas”cepas não fossem as Cabernet, as Merlot, as Pinot, as Chardonay, as Sauvignon, as Sangiovese.
Quando li essa notícia, lembrei-me de uma visita que fiz à Romênia, durante a ditadura de Nicolae Ceaucescu. Na televisão, só se ouvia música romena; nas lojas, só se comprava escassos produtos romenos; os jornais só refletiam notícias do País, aquelas permitidas pela censura do regime.
O vinho não é um produto material, como outro qualquer. É expressão da cultura de um povo. Nas garrafas não se põe um líquido qualquer, mas todo o estado de uma arte refinada.
Não cansarei, jamais, de exaltar a qualidade reconhecida dos vinhos catarinenses, sejam da Serra, do Meio Oeste ou do Sul; seja um Francesco, um Utopia, um Inominabile, um Alto Mar, ou uma espumante de Uva Goethe. Vários destes, aliás, já começam a ser exportados para outros Países. Vamos proibir, também, sua venda ao exterior?
Revogar o vinho estrangeiro, tirar das nossas mesas um Nicolas Catena Zapata, um Montes Alfa M ou um Seña; um Romanée Conti, um Opus One, um Vega Sicília Único, um Gaja, um Sassicaia, um Amarone Dal Forno, é como proibir a música dos Beatles, a poesia de Gabrierla Mistral ou de Pablo Neruda Neruda; a prosa de Garcia Marques, Vargas Llosa, Borges ou Castañeda ; a arte de Picasso, Leonardo Da Vinci ou Michelangelo.
Por Favor, vamos parar com isso!