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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Château d’Yquem – 1999


Y`quem

Vinho: Château d´Yquem

Tipo: Branco doce

Safra: 1999

País: França

Região: Sauternes - Gironde - Bordeaux

Produtor: Château d´Yquem

Castas: 80% Sémillon e 20% Sauvignon Blanc

Graduação Alcoólica: 14%

Envelhecimento: 36 a 42 meses em barricas de carvalho novas

Importadora: Comprado nos E.U.A pelo confrade Claudio

Comentários do confrade Gustavo Kist:

Sempre que a Confraria se “junta”, em algum momento a questão relativa à harmonização dos vinhos com a comida acaba surgindo e sei que esse tema é um pouco complicado e pra alguns até chato.

Na verdade, eu sempre tive a opinião de que o importante é não deixar a comida estragar a degustação. Pode soar meio pedante, mas já tive a oportunidade de ver uma pessoa achar que um Grand Cru da Borgonha (Corton-Grancey, 1996), estava estragado, porque convidou uns amigos pra beber esse vinho com churrasco!!

Um vinho delicado e realmente muito bom como esse da Borgonha, via de regra, vai ser suplantado pela comida, a não ser que se faça harmonização com os conhecidos magret ou confit de pato, coq au vin, beouf borguignon ou com algum queijo da região.

Alguns anos atrás até fiz um curso de harmonização na Expand pelo tal “Método Mercadini”, em que os vinhos e os tipos de comida são analisados de forma técnica e se faz uma escala dos valores das sensações dos alimentos e dos vinhos. Ao final dos três dias de curso achei aquilo uma grande besteira, porque não se respeita a subjetividade de cada pessoa, os gostos, as experiências...

Acredito que harmonização é uma coisa que só se entende na prática e algumas experiências podem mudar a percepção das pessoas sobre o poder de uma boa simbiose entre vinho e comida.

Há uns cinco anos eu, o confrade Claudio e a sua esposa Fabiana, mais o amigo Onofre estávamos em Buenos Aires para o show antológico do The Police e fomos jantar no restaurante Sucre, em Belgrano.

No final do jantar, na sobremesa, eu e a Fabi acabamos escolhendo a mesma sobremesa, algo parecido com um petit gateau de doce de leite, e pra “harmonizar” um late harvest da Ruttini.

Lembro bem da reação da Fabi àquela harmonização, que realmente ficou perfeita, o doce de leite derretido com o vinho doce foi uma combinação espetacular, a famosa harmonização perfeita, em que a mistura do vinho e da comida faz surgir um novo sabor na boca, também muito bom.

Acho que ali foi a primeira vez que a Fabiana entendeu as nossas “viagens” com relação a essas coisas do vinho e a nossa chatice, algumas vezes.

Toda essa divagação sobre vinho e comida foi necessária pra falar de um vinho muito especial, aliás, esse texto para o blog já tem um atraso de pelo menos 5 meses, mas antes tarde do que nunca, ainda mais quando se trata de falar de um dos grandes ícones da vinicultura, o fabuloso Chateau d’Yquem, um vinho que já foi citado por tantos escritores, desde Proust, passando por Dostoievski e Alexandre Dumas filho e que já apareceu em vários filmes clássicos ou em blockbusters como Treze Homens e Um novo Segredo.

A primeira vez que bebi esse vinho foi em dezembro de 2008, numa viagem à França, no bar au vin que o Chateau Valandrau possui no centro da cidade de Saint-Emillion, em Bordeaux. Visitei o Chateau (d’Yquem), mas é muito difícil conseguir uma visitação se não for com muita antecedência, aliado ao fato de que na época de fim do ano muita coisa fica fechada na região, principalmente por conta do frio muito intenso.

Nessa ocasião em Saint-Emillion bebi um copo do Chateau d’Yquem 2002 (por 30 euros), após experimentar alguns vinhos tintos da região, e, apesar de bastante jovem, já mostrava porque é considerado uma das maravilhas da vinicultura.

Por sorte, no início desse ano de 2011 tive mais uma vez a oportunidade de degustar esse vinho, dessa vez na casa do confrade Marcelo Scherer, num jantar Tailândes feito pela sua esposa, Flávia, que contou também com a presença dos amigos Claudio da Silveira e esposa, que para homenagear o aniversário recente da Fabi, nos brindou com um “demi-bouteille” do Chateau d’Yquem 1999.

Nas oportunidades em que tive a felicidade de beber grandes vinhos doces, como os Sauternes ou os Tokaji, sempre me sinto um privilegiado, porque é uma daquelas experiências únicas, um dos grandes prazeres da vida.

Pessoalmente acho os Tokaji 5/6 puttonyons são mais interessantes, na média, que os vinhos genéricos de Sauternes/Barsac, mas nada do que bebi até hoje entre essas duas regiões se assemelha ou chega perto do Chateau d’Yquem.

O vinho é doce, e não podia deixar de ser, mas é elegante, aveludado, e tem uma acidez que não se encontra em outros grandes vinhos de Sauternes, mel, frutas cítricas, flores secas, sei lá... um vinho de “camadas”!!!!!!! Dá pra ficar cheirando o aroma por muito tempo e ele fica na memória por muito tempo também!!!!!

A permanência em boca é excepcional, a textura não permite dizer que é um vinho branco, é macio, o doce não é enjoativo é apenas muito bom e pede sempre mais um gole. Uma combinação perfeita entre a fruta, a botritis cinerea (o fungo que perfura a casca da uva e produz o noble rotten), o açúcar e a acidez.

A harmonização, que nesse jantar foi por contraposição, com queijos azuis, deixou a todos extasiados. A mistura dos queijos muito salgados com o doce do vinho fez surgir na boca um novo sabor, incrível, que é realmente muito difícil de explicar em palavras.

O vinho ainda era jovem, ainda vai envelhecer por anos e melhorar na garrafa, mas esse 1999, como era uma meia-garrafa (que permite um envelhecimento mais rápido), na minha opinião já estava chegando perto do que ele podia trazer de melhor.

Pena que era uma meia-garrafa!!!

Pena que ele custe tão caro pra nós aqui no Brasil (e no mundo inteiro, na verdade).

Appellation Sauternes

Classification Premier Cru Supérieur

Commune Sauternes

Area 113 hectares (280 acres)

Prestige Château d'Yquem

Second wine Ygrec (dry white, since 1959)

Grape varieties Sémillon, Sauvignon Blanc

A história do Chateau D’Yquem, questões técnicas e outros detalhes podem ser melhor visualizados nas seguintes páginas:

http://www.yquem.fr/

http://en.wikipedia.org/wiki/Ch%C3%A2teau_d%27Yquem

2 comentários:

  1. Caro Gustavo e demais da Confloripa,

    O Yquem é um dos grandes vinhos de sobremesa que ainda não tive a oportunidade de provar. Dos que já tomei, nada se igualou aos icewines canadenses, que não têm nada a ver com o "icewine" da Pericó; sou fã de muitos vinhos brasileiros,mas esse eu não engoli.
    Espero um dia provar um Yquem para ver se supera o encanto que tenho pelo icewines.

    Abraço e parabéns pela degustação,

    Eugênio

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  2. Eugênio,

    Estávamos em viagem pelo Uruguai visitando algumas "Bodegas" e não pude responder antes teu comentário.
    Concordo com a avaliação do icewine da Pericó, acho que eles ainda tem um longo caminho pela frente até acertar o ponto desse vinho (se acertarem).
    Sobre o Chateau d'Yquem, é realmente uma experiência que não se esquece, bebi poucos icewines, não mais que 3 até hoje, mas gosto muito de vinhos doces, e, na média, prefiro os Tokaji, da Hungria, mas o d'Yquem não tem comparação!!!!
    Se você puder por favor manda dicas de bons icewines, vamos tentar incluir alguns nas próximas degustações da Confloripa.

    Abraço

    Gustavo.

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